2021
Acrílica sobre tela
45,72cm x 60,96cm (18in x 24in)
A tela sobre a qual eu faço essas observações ainda não possui um título. É composta por dois galhos de uma árvore em primeiro plano, em cuja bifurcação jaz um pequeno pássaro azul que olha para cima. Tais galhos, entretanto, formam algemas que prendem duas mãos que parecem pertencer ao tronco da árvore também, e que seguram, acima do pássaro, os elementos de fundo, formados por aquilo que parecem ser as metades de um coração, do lado esquerdo em rosas e púrpuras e à direita por azuis e lavandas.
O pássaro, elemento central da imagem, não olha ao espectador, mas presta atenção as mãos. O espectador é direcionado pelo olhar da pequena árvore e se detém nas mãos que seguram o coração, e os olhos percorrem a tela rapidamente, seguindo as ondas e entende que há uma poesia gentil e dolorosa habitando aquele momento.
É a mãe natureza juntando dois pedaços de um coração partido, e o passarinho testemunha o enlace das duas partes que se juntam, e começam a se unir pelas cores, pelo carinho das mãos que guiam esse encontro, e que os mantém amorosamente em comunhão. Acima de tudo, a artista elabora um jogo visual em que os olhos do espectador seguem a fluidez dos sulcos criados pelo fluxo das cores que traçam o percurso visual, levando a gente a olhar diversas vezes por esses caminhos à procura de cada constituinte da imagem.
Segundo a tradição chinesa, os pássaros azuis são mensageiros celestes, aqueles que anunciam recados dos deuses aos homens. São assim metaforicamente a representação da leveza. Assim como na pintura, é a ave que comunica ao observador toda a ideia do quadro de JBittar, e fornece a ligação entre céu e terra.
Apesar do pequeno animal, tão vital na pintura, são as mãos nessa posição de oração, para a qual se deteve minha atenção. A pele das mãos, pintada como se fossem os galhos, apesar de serem parte da árvore, são de alguma maneira feminina e jovial, mesmo com os vincos que se assemelham à casca da planta. Eis que ali, as mãos são femininas e delicadas, com dedos graciosos, e quando a gente se atém a essa particularidade, pensa logo numa mãe segurando seus bebês. E esse pensamento confunde com a primeira imagem que se criou de mãos segurando um coração.
E, então, eu, flagro-me como se estivesse no momento em que o Anjo Gabriel anunciasse sua gestação a Maria. A mulher, amarada ao seu destino, ouve o anúncio da mensagem e, imediatamente, abraça seu futuro em oração.
Texto de Edna Carla Stradioto
Edna Carla Stradioto é artista plástica, fundadora e administradora do grupo de artista independentes Artrilha: artistas criando trilhas, sócia da Artrilha Editora, na qual é editora-chefe. É mestre em teoria da imagem pela UNESP e doutoranda na mesma área pela Universidade do Minho. Com o Artrilha já criou os projetos da Revista Artrilha, Salão Nacional de Artes Visuais Virgínia Artigas, e tem em andamento os leilões de arte Artrilha.